Alunos de medicina da Uncisal têm dia de vivência com povos tradicionais
Os olhos de 25 alunos de Medicina da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) brilharam intensamente ao ver pela primeira vez a dança do toré em visita à aldeia indígena da Mata da Cafurna, da Tribo Xucuru Kariri, no município de Palmeira dos Índios.
O ritual sagrado, comum aos povos indígenas, foi o convite dos povos tradicionais e ancestrais para buscarem integração com as forças da natureza e com os próprios visitantes, compostos de alunos, professores e representantes de secretarias estaduais, graças à ação da Gerência de Articulação Social do Gabinete Civil do Governo do Estado.
O encontro conseguiu reunir no trabalho de cidadania mais de 100 pessoas.
Na ocasião, acadêmicos de Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, referente à disciplina Ética, Alteridade e Diversidade no Cuidado em Saúde, puderam constatar in loco a troca de experiências e quebrar preconceitos.
Esse foi o caso da aluna Denise Lauana, 19 anos, do 1º ano de Medicina. “A empatia foi grande neste trabalho. A proximidade favoreceu a quebra de conceitos equivocados. É quase unânime que a sociedade em geral tem um estereótipo muito traçado de que eles (os índios) vivem em ocas, são selvagens, e não é nada disso. Quando você ver in loco percebe como eles são educados, amáveis e um povo que luta para respeitarem suas raízes”, avaliou Denise.
A mesma impressão teve Rafaela Alcântara, 22 anos, também do 1º período de Medicina da Uncisal. “Eles são o início da formação desta cidade e não são reconhecidos pela atual geração. A cultura é incrível, além de serem bastante acolhedores”, disse Rafaela.
Quebrar preconceitos, uma das missões
Para a coordenadora da Gerência de Articulação Social do Gabinete Civil, Edenilsa Lima, a conscientização do papel dos futuros médicos no resgate de pertencimento das comunidades tradicionais no que tange à saúde é fundamental.
“Conscientizar através da educação e da Universidade é fundamental para a quebra dos preconceitos e a necessidade de integrar esses povos através da saúde, assim como propiciar a eles a oportunidade de também ingressar nos diversos cursos que a educação pública oferta às comunidades tradicionais para que exista o processo de pertencimento”, ressaltou Edenilza.
“Nosso objetivo é aproximar, integrar, levar cidadania e diversos serviços à população mais distante e, agora, com um olhar também para os povos tradicionais do nosso Estado”, ao destacar que o trabalho solidifica a interlocução ao reconhecer a cidadania dos povos tradicionais. “A gestão Renan Filho tem priorizado o diálogo e a construção de políticas de atenção diferenciadas para que a identidade cultural e o desenvolvimento social desses povos sejam melhorados”, completou.
Para a professora da Uncisal responsável pela disciplina, Sandra Bonfim, a experiência solidifica as políticas afirmativas, uma das missões da universidade pública.
“É uma de nossas diretrizes na Uncisal que trabalha a educação para desconstruir os preconceitos históricos. Vir conhecer a realidade do outro, do ‘diferente’, transforma o sujeito, sem tirar o valor da teoria. Esse projeto sensibiliza o aluno para a aplicação dessas políticas, sem egocentrismo, e estabelece o diálogo por meio da educação para que compreendam o poder da fé, da tradição de outros povos”, ressaltou Sandra.
O projeto da Uncisal é uma imersão pedagógica que ocorre desde 2014 na formação dos alunos em saúde, dialogando no território da população dos povos tradicionais e fazendo os alunos enxergarem também as demandas sociais desses povos.
Experiência enriquecedora
O articulador com a aldeia da Mata da Cafurna, Maynami José Santana da Silva, destacou a visita. “Receber os alunos da Uncisal foi um momento importante para nossa aldeia e esperamos articular ações de extensão pensadas coletivamente”.
As articulações continuam no sentido de construção de um programa de extensão para “transversalizar” as políticas afirmativas em projetos já existentes ou novos, com a Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e a Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
A índia Tainá Rakan também gostou da integração com os alunos de Medicina. “Foi importante para mostrar nossa convivência de hoje, o dia a dia, porque as pessoas têm uma ideia do índio no passado. Poucos sabem que o índio também faz faculdade e queremos abrir espaços para que a comunidade tenha acesso a cursos, como o de Medicina, por exemplo”, disse Tainá. De acordo com ela, a comunidade Xucuru tem registrado 250 famílias.
O trabalho foi encerrado na comunidade quilombola Tabacaria, também em Palmeira dos Índios.
Fonte: Agência Alagoas