O que as crianças nos ensinam: brincar melhora a saúde
Pega-pega, esconde-esconde, amarelinha, telefone-sem-fio, rouba-bandeira… De quantas brincadeiras você consegue lembrar ao pensar na sua própria infância? As brincadeiras podem até ter mudado ao longo dos anos, mas algo permanece inalterado: o gosto pelo ato de brincar que todo menino e menina tem. O que muitos pais desconhecem ou parecem não perceber é que brincar é muito mais que mera distração ou diversão. Brincando, os pequeninos descobrem o mundo, formam e fixam valores importantes na formação da personalidade.
A constatação é do movimento internacional “Aliança pela Infância”, que realiza este mês a Semana Mundial do Brincar. A iniciativa surgiu como forma de favorecer uma infância plena ao redor do planeta, a fim de melhorar as sociedades a partir das crianças. A organização se baseia em princípios psicopedagógicos, sociais e neurológicos para criar as ações.
A psicóloga Celiane Chagas, do Hapvida Saúde, diz que a brincadeira e a infância são diretamente associadas porque é no início da vida, com tantas descobertas, que a mente humana mais exercita a imaginação como forma de entender e compreender o mundo. “Brincando, as crianças reproduzem aquilo que veem e tentam compreender o mundo que as rodeia”, revela a especialista.
Liberdade
A psicóloga explica que o ato de brincar pode moldar completamente a personalidade e direcionar alguns valores que as crianças irão carregar para o resto da vida, a partir da infância. “Por isso, criança que não brinca tende a se tornar um adulto com dificuldade de relacionamento por causa da dificuldade de expressar o que sente e o que pensa”, esclarece.
A especialista recomenda que os pais favoreçam a brincadeira dentro e fora de casa, mas alerta que as famílias não confundam esses momentos de brincar com o consumismo, o que é muito prejudicial. “Se os pais apenas encherem as crianças de brinquedos, vão dar a elas a impressão de que tudo é descartável, levando os filhos à reprodução desse comportamento nas outras fases da vida, como na adolescência e na idade adulta”, aponta Celiane.
Sem idade
Muitos terapeutas ao redor do mundo lançam mão da brincadeira como forma de incentivar os pacientes, nos consultórios, a criarem soluções para os problemas que enfrentam. “Isso se dá porque, ao brincar, o ser humano monta uma espécie de maquete da própria vida e, assim, consegue enxergar de cima. Aí fica fácil ver onde está o incômodo e dar um jeito”, revela a psicóloga.
Mas calma, não é que os pacientes estejam brincando de esconde-esconde embaixo do divã, nada disso. As brincadeiras em questão procuram explorar o lado lúdico dos jogos de imaginação, por exemplo, o que estimula a criatividade. Pessoas que tiveram uma infância sem traumas e aproveitaram a primeira fase da vida com muitas brincadeiras tendem a ser mais proativas e visionárias justamente por causa desse incentivo que mexe com todo o cérebro”, afirma.
Sozinha
Dica da especialista: brincar sozinha não necessariamente é estar sozinha. A criança tem necessidade de estar sozinha para se sentir livre no exercício do criar. Os adultos não precisam fazer uma narração constante da brincadeira nem se preocupar em ajudar em momentos que as crianças não querem ajuda. “Se os pais precisam de ambiente organizado, limpo e silencioso para trabalhar, pensar ou criar, por que com as crianças seria diferente?”, pondera Celiane.
Foi exatamente essa questão que a contadora Danielli Morais Lobo levantou quando organizou o quarto da filha Júlia, de 4 anos. “Eu organizei quase tudo ao alcance dela para que essa autonomia a ajude em diversos momentos. Acho que, quando a gente parar de reproduzir comportamentos sociais comuns e olhar nosso filho como um indivíduo único, a gente deixa de se sentir líderes imprescindíveis para tudo relacionado à criança e passa a ser uma companhia desejada no momento e na medida certa”, orgulha-se Danielli.
Por: Beatriz Nunes