A fantasia estava em dia e a terapia?
Muitos falam que “o ano só começa depois do carnaval’’, podemos perceber o quanto essa frase se faz presente dentro do nosso contexto atual, e o que Psicologia pode tirar de conclusão a partir dela?
Percebe-se à cada ano que se cria uma expectativa muito grande ao redor desse feriado, o que ficou mais acentuado nesse ano de 2023 devido ao recomeço pós pandêmico das atividades carnavalescas, e o fator desejo e folia estão atrelados diretamente no comportamento humano e podemos fazer a seguinte leitura:
Durante 5 dias – no mínimo, pois a festa começa bem antes do feriado, ao longo dos finais de semana anteriores – a nação interrompe suas atividades cotidianas e se permite vivenciar a experiência carnavalesca de romper com o cotidiano quase que por inteiro: não ter que comparecer ao escritório em plena semana, começar a beber logo cedo, fantasiar-se do que quiser, conhecer pessoas novas, curtir blocos, e desprender-se da sua rotina.
Essa ruptura com a rotina e com o papel que desempenhamos no dia a dia faz parte do conceito de carnaval desde o começo da festa, que começou entre os séculos XVI e XVII, sob o nome de entrudo.
Àquela época, a ideia geral do evento era a de “um mundo de cabeça para baixo”, justamente para subverter a ordem das coisas: os escravos inverteram os papéis com os senhores e vice-versa. Todos conseguiam aproveitar a festa com uma sensação de igualdade.
Com o uso das máscaras, era possível desfrutar da totalidade da festa — misturar-se com o povo, apreciar as bebedeiras e os prazeres carnais — preservando o sigilo sobre sua identidade.
Até os dias de hoje, o uso de fantasias cumpre a função da diversão, claro, mas também a de agir como ponte para que o indivíduo se liberte do seu personagem usual — o papel que desempenha diariamente — e assume um papel livre de censura.
Freud teorizou que, era nesse momento que o ID, uma das 3 partes que compõem a mente humana, e é responsável pelos ímpetos e desejos, se expressa mais livremente, sem priorizar as consequências das suas ações e culpa, que são gerados pelo SuperEgo.
Despir-se de inibições e pressões representa o momento em que o ID sobressai os demais e assume o controle da personalidade do indivíduo. O Carnaval é o momento em que os foliões cedem aos seus impulsos e, em alguns casos, literalmente, mascaram suas identidades cotidianas em busca do êxtase e da experiência catártica de viver um mundo sem amarras sociais.
Na quarta-feira de cinzas, o superego reassume o controle, as máscaras voltam para o fundo do armário e a vida volta ao normal, junto com as consequências que, na melhor das hipóteses, não passarão de uma dorzinha de cabeça de ressaca.
Sendo assim, é preciso ponderar que todo excesso é ruim para nossa saúde e, por isso, precisamos aprender a balancear o bom e o ruim, cultivando hábitos que realmente tragam benefícios para todos os aspectos de nossas vidas.
Não espere o carnaval passar para cuidar da sua saúde mental, até porque, como vimos neste texto, a forma que vivemos a festa diz muito da percepção de nós mesmos, e na quarta-feira de cinzas, nos deparamos novamente com a realidade que pode, para muitas pessoas, ser uma prisão, em contrapartida à liberdade que o carnaval proporciona.
Daniela Hernandez de Barros, Psicóloga (CRP 15/3726) e Jornalista (MTB 2027/AL). Formada pelo Centro Universitário CESMAC; Especialista em Urgência, Emergência e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) pela UNIT; Capacitação em Psicologia Jurídica e Processos Psicológicos Criminais, Capacitação em Avaliação Psicológica, Capacitação em Psicologia Breve.